Euler de França Belém
Editora Boitempo plagia e culpa a direita
No Brasil é assim: mesmo quando não tem culpa, a direita leva a fama. É o periquito da circunstância. A denúncia de que a Boitempo Editorial “plagiou” obras de outras editoras foi apresentada cuidadosamente, sem nenhum comentário político-ideológico, por uma das mais qualificadas tradutoras brasileiras, Denise Bottmann. A editora do indispensável blog Não Gosto de Plágio em nenhum momento fez análises políticas sobre a (falta de) qualidade ou sobre a ideologia dos livros publicados no Brasil pela casa gerida por Ivana Jinkings. Direita e esquerda não foram citadas. Depois, a “Folha de S. Paulo” fez uma reportagem sobre o assunto, evidenciando os “plágios”, ou “coincidências”. O jornal paulistano também não fez qualquer restrição ideológica às publicações da Boitempo — muitas de elevado padrão intelectual e com traduções competentes.
Portanto, a direita não deve ser responsabilizada pela descoberta e repercussão dos plágios na internet e em jornais impressos. Mesmo assim, a Boitempo, para “esconder” o “plágio” — o que não é mais possível e, se o caso for para a Justiça, vai ficar pior para a editora e para a suposta “tradutora” Isa Tavares —, convocou intelectuais brasileiros e estrangeiros para defendê-la de um suposto e insidioso ataque em bloco da direita patropi (tão invisível quanto o Curupira). Os intelectuais, sobretudo os de outros países, como Slavoj Žižek, certamente nem sabem direito o que está acontecendo e, mais tarde, certamente admitirão, como fez Roberto Romano, há vários anos, o equívoco. Eles não têm como avaliar o mérito da discussão. Primeiro, porque não leem em português. Segundo, porque a Boitempo não lhes deve ter passado informações adequadas para um julgamento justo. Por exemplo: a editora não deve ter enviado o seguinte esclarecimento divulgado para a imprensa brasileira: “Constatamos coincidências significativas entre as traduções dos livros ‘Considerações sobre o Marxismo Ocidental/Nas Trilhas do Materialismo Histórico’, de Perry Anderson, ‘A Teoria da Alienação em Marx’, de István Mészáros, e de capítulos de ‘Lacrimae Rerum: Ensaios Sobre Cinema Moderno’, de Slavoj Žižek, publicados pela Boitempo, e traduções de outras editoras”. Alguns dos defensores da Boitempo, como Mészaros e Žižek, possivelmente não sabem que são “vítimas” da editora. Certamente não sabem que a Boitempo está recolhendo os exemplares cujas traduções são apontadas como “plágios”.
Faça-se justiça: a Boitempo, excelente casa editorial, tem publicado livros importantes, como os de Mészáros e “O Romance Histórico”, do filósofo György Lukács, com tradução precisa de Rubens Enderle. O livro de Lukács é um clássico importante. Publicado há mais de 70 anos, e, mesmo contendo as idiossincrasias às vezes mais políticas do que literárias do autor, permanece uma obra viva. Uma boa editora não precisa ser necessariamente eclética, aberta a ideologias diferentes. O fato de uma casa ser de esquerda não diminui seu valor.
Na década de 1980, o crítico José Guilherme Merquior denunciou, num artigo publicado na “Folha de S. Paulo”, que a filósofa Marilena Chauí havia copiado um trecho de um livro do filósofo francês Claude Lefort. O plágio era evidente, mas Chauí, no lugar de admitir a crítica, partiu para o ataque, sugerindo que Merquior era um homem da ditadura, por ser diplomata — quando deveria tratá-lo como homem de Estado, como ela própria, uma funcionária pública da Universidade de São Paulo. Hábil, a filósofa conseguiu que Lefort, o prejudicado, inventasse uma “filiação de pensamento”, que, no Brasil, se tornou sinônimo de plágio. Depois, arregimentou intelectuais de “esquerda”, entre eles o filósofo Roberto Romano. Maria Sylvia de Carvalho Franco e Romano bombardearam Merquior, acusando-o de ideólogo da ditadura. Romano arrependeu-se, tempos depois, mas não sei se pediu desculpas ao próprio Merquior, que morreu cedo, aos 49 anos, quando era o mais importante intelectual liberal do país, em diálogo constante com a esquerda menos ortodoxa, como o filósofo Leandro Konder.
Como a discussão virou coisa de criança, resta dizer a Ivana Jinkings que está certa: a direita é mesmo o “Ruivo Herring” (espero que seja a grafia correta) do Brasil. Com o apoio do Scooby-Doo.
Portanto, a direita não deve ser responsabilizada pela descoberta e repercussão dos plágios na internet e em jornais impressos. Mesmo assim, a Boitempo, para “esconder” o “plágio” — o que não é mais possível e, se o caso for para a Justiça, vai ficar pior para a editora e para a suposta “tradutora” Isa Tavares —, convocou intelectuais brasileiros e estrangeiros para defendê-la de um suposto e insidioso ataque em bloco da direita patropi (tão invisível quanto o Curupira). Os intelectuais, sobretudo os de outros países, como Slavoj Žižek, certamente nem sabem direito o que está acontecendo e, mais tarde, certamente admitirão, como fez Roberto Romano, há vários anos, o equívoco. Eles não têm como avaliar o mérito da discussão. Primeiro, porque não leem em português. Segundo, porque a Boitempo não lhes deve ter passado informações adequadas para um julgamento justo. Por exemplo: a editora não deve ter enviado o seguinte esclarecimento divulgado para a imprensa brasileira: “Constatamos coincidências significativas entre as traduções dos livros ‘Considerações sobre o Marxismo Ocidental/Nas Trilhas do Materialismo Histórico’, de Perry Anderson, ‘A Teoria da Alienação em Marx’, de István Mészáros, e de capítulos de ‘Lacrimae Rerum: Ensaios Sobre Cinema Moderno’, de Slavoj Žižek, publicados pela Boitempo, e traduções de outras editoras”. Alguns dos defensores da Boitempo, como Mészaros e Žižek, possivelmente não sabem que são “vítimas” da editora. Certamente não sabem que a Boitempo está recolhendo os exemplares cujas traduções são apontadas como “plágios”.
Faça-se justiça: a Boitempo, excelente casa editorial, tem publicado livros importantes, como os de Mészáros e “O Romance Histórico”, do filósofo György Lukács, com tradução precisa de Rubens Enderle. O livro de Lukács é um clássico importante. Publicado há mais de 70 anos, e, mesmo contendo as idiossincrasias às vezes mais políticas do que literárias do autor, permanece uma obra viva. Uma boa editora não precisa ser necessariamente eclética, aberta a ideologias diferentes. O fato de uma casa ser de esquerda não diminui seu valor.
Na década de 1980, o crítico José Guilherme Merquior denunciou, num artigo publicado na “Folha de S. Paulo”, que a filósofa Marilena Chauí havia copiado um trecho de um livro do filósofo francês Claude Lefort. O plágio era evidente, mas Chauí, no lugar de admitir a crítica, partiu para o ataque, sugerindo que Merquior era um homem da ditadura, por ser diplomata — quando deveria tratá-lo como homem de Estado, como ela própria, uma funcionária pública da Universidade de São Paulo. Hábil, a filósofa conseguiu que Lefort, o prejudicado, inventasse uma “filiação de pensamento”, que, no Brasil, se tornou sinônimo de plágio. Depois, arregimentou intelectuais de “esquerda”, entre eles o filósofo Roberto Romano. Maria Sylvia de Carvalho Franco e Romano bombardearam Merquior, acusando-o de ideólogo da ditadura. Romano arrependeu-se, tempos depois, mas não sei se pediu desculpas ao próprio Merquior, que morreu cedo, aos 49 anos, quando era o mais importante intelectual liberal do país, em diálogo constante com a esquerda menos ortodoxa, como o filósofo Leandro Konder.
Como a discussão virou coisa de criança, resta dizer a Ivana Jinkings que está certa: a direita é mesmo o “Ruivo Herring” (espero que seja a grafia correta) do Brasil. Com o apoio do Scooby-Doo.
sobre o caso boitempo, veja-se aqui
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